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Temática São Paulo

   “Existe uma dialética na construção da cidade - o desejo por mudanças existe, entretanto sem que se desprenda do modelo de organização movido pelo poder do capital, que trata o espaço urbano como uma grande empresa, ou seja, que visa lucros e para isso dispõem do urbanismo para se promover, superar suas crises e manter-se ativo.

   O mote “direito à cidade”, segundo Ermínia Maricato, em um visão acadêmica, é aquela cidade que oferece aos seus moradores espaços expressivos para o lazer, cultura e infraestruturas. A ComOrg SeNEMAU SP15 acredita que além desta visão, o direito de transformar a cidade em algo diferente é acima de tudo coletivo e comum.

   E afinal, quem pode reivindicar o direito à cidade? Para David Harvey (2014; 20) todos tem este direito, dos financistas e empreiteiros aos sem-teto, uma vez que direito é objeto de luta e, quando os direitos são iguais quem ganha é a força, seja de repressão ou manifestação.

   Vemos essa luta cotidianamente, a própria cidade, em conjunto com o urbanismo e fomentado pelo Estado, que acaba agindo para proteger o status quo, sendo conivente com as ações da elite e da iniciativa privada, que se apropriam deliberadamente dos espaços públicos para construção de grandes empreendimentos muitas vezes não regularizados. Em contra partida, repreendem de forma excessiva os pobres que buscam a partir da ilegalidade, suprir o que deveria ser legal e provido pelo Estado - como moradia, saneamento, transporte, saúde e lazer.

   É o embate entre as máquinas de guerra e os aparelhos de captura, segundo Brissac, na qual “as formas mais extremas de modernização convivem com novas condições urbanas, informais, transitórias, clandestinas, geradas pela integração global”, transformando a cidade em um campo de batalha.

 

São Paulo: antiga terra da garoa, atual terra do racionamento; do pingado e dos cappuccinos com canela; do pastel com caldo de cana e da coxinha gourmet; ponto de encontro e ponto de partida, a cidade que nunca para, que cresce de forma desordenada como um rizoma. Para muitos, terra de oportunidades, mostra-se uma cidade excludente, conflagrada e que não pouco provê (ou ainda provê para poucos) serviços de qualidade à população residente. Restaria, dessa forma, ocupar e resistir.

 

   As grandes manifestações de 2013, em todo o Brasil, levaram às ruas a enorme insatisfação e o desejo de mudança. A repercussão midiática, muitas vezes falha e manipulada, transparece a inversão de valores de uma população de pouco posicionamento e autonomia política enquanto sociedade civil.

    São as mobilizações populares e sociais, não importando se o impacto for em pequena ou grande escala, que buscam diariamente a concretização da produção e do acesso ao espaço coletivo na cidade. Apesar dos movimentos que lutam por direitos negados, grande parte da população ainda não participa ou entende a importância dessas causas, por não perceber como isso as afeta. Que revolução teria potência frente à cegueira causada por um sistema econômico tão corrompido?

 

   Os espaços deveriam por princípio representar um suporte à cidade e estimular ações de dimensão política para além da dimensão funcional, democratizando-a. Os espaços devem de fato ter potência de enfretamento da metrópole que é hoje um lugar que não nos acolhe e devem servir de referências mais potentes de paisagem. Devem proporcionar um convite de reflexão, dando legibilidade às iniciativas que já acontecem e que desencadeiam mudanças coletivas significativas de pensamento. E que representem aberturas e diferentes olhares para tudo o que nos envolve e que atribuam sentido às nossas vidas, mesmo que não seja em prol de uma luta especifica, mas que nos desperte algum desejo de ação efetiva de mudança, vivência, ou pelo menos um respiro para os estímulos caóticos da cidade.

   A experimentação, nesse sentido, se faz anterior ao decreto de regulamentações, ou seja, a “revolução do cotidiano”, a espontânea descoberta de novos desejos pode resultar, naturalmente, na descoberta permanente de novos espaços de ação libertária, mesmo que não tenham sido planejados exatamente com essa finalidade. Assim, todo e qualquer uso, todo e qualquer espaço, depende da leitura que fazemos do lugar que nos é apresentado na cidade. Porém, deve haver, simultaneamente, a revolução interna de pensamento e leitura da cidade para agregar sentido ao cotidiano das pessoas.

   A arte expressa em intervenções urbanas se apresenta, assim, como uma possibilidade potente de interação criativa e poética das pessoas com o espaço cotidiano. As intervenções, ainda que efêmeras, são capazes de reinventar novos sentidos ao espaço e suscitar novas percepções às pessoas.

Pôr a arte ao serviço do urbano não significa de modo algum enfeitar o espaço urbano com objetos de arte. Isso quer dizer que os tempo-espaços tornam-se obra de arte e que a arte é reconsiderada como fonte e modelo de apropriação do espaço e do tempo.” (LEFEBVRE, 1969, p. 124)

 

   A ComOrg SeNEMAU SP15 almeja proporcionar esse conceito de espaço participativo – considerando a cidade como receptor não-fixo e não-passivo, mas de caráter transitório. Um multiplicador capaz de proporcionar mais interatividade com seus componentes espaciais e humanos, criando ambiências mais acessíveis, inseridas realmente em consonância com o lugar e com as pessoas.”

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